O improviso é um grande desafio. Deixar-se levar por uma música, sem coreografia, é algo que toda bailarina deve propor-se, em algum momento de sua trajetória.

Nada deixa a expressão facial e corporal mais autêntica do que um solo com improviso. A coreografia “engessa” a expressão, muitas vezes.

Nos meus solos, gosto de improvisar. Coreografo a entrada, algumas partes mais impactantes e ricas da música, e o final. Todo o “meio” é constituído de movimentos que foram treinados na música em questão, explorando as possibilidades, alguns dias antes, e no que a música desperta em mim: sua letra (mesmo que não seja cantada naquela versão), sua melodia, sua base rítmica, e a minha história também. Se estou triste, se estou feliz, se estou cansada ou radiante, isso interfere nas escolhas de movimentos. E, no dia do show, também me influencia se o clima do show está bom, se está ruim, se o público é receptivo, se está frio ou calor, se o chão é escorregadio… hoje em dia, com a maturidade (na dança e na vida), costumo fazer uma “bolha de energia”, deixar entrar só o que quero, e me adaptar ao ambiente da melhor forma. Tenho conseguido, também, ter foco dentro do improviso, para depois não ter a sensação de “eu não tenho a menor ideia do que fiz” – mas isso também vem com o tempo.

Só se aprende a improvisar improvisando. Se entregando à música. E a prática traz melhores e melhores performances.

Permita-se errar e acertar! Permita-se improvisar!

Para estruturar os primeiros exercícios de improviso, algumas dicas:

  • Escute, escute e escute (e escute) a música! Até ouvir cada micro-detalhe da melodia e cada instrumento. Mergulhe nessa audição.
  • Imagine-se dançando a música. Visualize os detalhes: local, público, figurino, sentimento…
  • Dance a música, sozinha, quando não for interrompida por ninguém, de maneira livre. Vale qualquer movimento, até os que não são de dança árabe.
  • Divida a música em entrada, meio e final. Reconheça essas partes de forma rápida e fácil. Eu recomendo coreografar a entrada e o final.
  • Agora, treine somente o meio. Perceba os movimentos que cabem em cada parte. Faça uma lista dos movimentos que cabem em cada momento. Reconheça os diferentes humores (lento, rápido, melódico, rítmico…).
  • Escolha dois movimentos que você mais gosta. Ex. oito para frente e básico egípcio. Eles serão seus “movimentos coringa”. Quando nenhum outro vier à sua cabeça, recorra a um deles.
  • Treine várias vezes (e em diferentes dias) a estrutura que você criou.
  • Faça de frente para o espelho somente no início. Depois da estrutura criada, treine de costas para o espelho, para soltar a expressão.
  • Finalize o seu exercício gravando sua performance! Se quiser me enviar, será lindo!

Beijos,

Lucy Linck